Devaneios de uma jovem terapeuta

Através da voz de uma jovem terapeuta, da presença de um jovem terapeuta e não um terapeuta jovem, da escrita de uma grande terapeuta que é mãe, mulher, esposa e se abriu para o trabalho clínico com os processos da maternidade. 

De duas terapeutas que ainda não defini como nomea-las aqui, mas que fazem parte e caminham junto nesse processo da construção do ser terapeuta.

E de uma senhora supervisora no duplo sentido da palavra, por ser uma senhora de idade e por ser uma mestra grandiosa que nos guia, ilumina, orienta e poderia caber dentro de um potinho que está sempre dentro de nossas mentes e corações.  

O que é ser terapeuta?

Qual a função do psi terapeuta?

O que define esse trabalho?

O que não define esse trabalho?

Uma das terapeutas que não foi nomeada, além de seu próprio nome, diz que existem classificações que definem o nosso trabalho e coisas que não podem ser nomeados, mas são sentidas e assim sabemos, sentimos a sua existência.

Como dar nome, nomear, definir, traduzir a magnitude desse trabalho?

Que trabalho é esse mesmo que estou falando? Entro em devaneio…

Eu não sei.

Ecoa aqui dentro.

Angustiada tento definir, dar um diagnóstico. 

Me sinto pressionada.

Não sei o que dizer.

Ocorre um bloqueio.

Esse bloqueio me diz: respira. 

Solto o ar e solto a pressão da definição.

Encontro uma passagem, de ar, paro de pensar e apenas mergulho dentro do não saber e então começo a caminhar.

Emocionada, com os olhos marejados, o sentir transborda e as palavras fluem em voz que engasga, mas não para de fluir.

Que sentimento é esse?

Como se define um sentimento? 

Existem sentimentos considerados básicos de conhecimento geral, são eles:

tristeza, medo, raiva e amor. 

Dentro destes sentimentos, já nomeados por alguém que os sentiu e compartilhou com outro alguém, que sentiu o mesmo e disse: eu também sinto isso, sendo assim vamos nomear dessa forma. 

Será que foi assim que surgiram os nomes desses sentimentos? Me pergunto.

Por serem compartilhados por mais de uma pessoa e nomeados como tal? 

Quantos outros sentimentos existem? Será que é possível mensurar um número? Definir uma quantidade exata de sentimentos que existem no mundo? 

Quantos diagnósticos psiquiátricos existem hoje? E quando se começou a diagnosticar as questões da saúde mental?

Muitos DSM (manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais) já existem, esse número só aumenta e as especificações diagnósticas médicas se ampliam. Com o objetivo de enquadrar um diagnóstico que caiba dentro de um padrão de funcionamento.

O jovem terapeuta e não um terapeuta jovem escreve depois de estar em sua, em nossa, presença:

”neste aspecto de ser um Jovem terapeuta e não um terapeuta jovem, eu me encaixo, me sinto muitas vezes (mesmo) com as mesmas angustias, dúvidas, medos e até algumas certezas que costumam se diluir com o tempo ou com novos desafios. Não estamos prontos e acabados! (para o quê?), isso é, ou pode ser, o nosso abismo ou nosso céu…talvez nunca estaremos e essa é a própria beleza.”

Qual é a definição da indefinição? Se não o próprio movimento da busca, da fome, por uma resposta?

Quando encontro uma resposta me sinto plena, preenchida, saciada.

Até que a vida acontece e sinto o vazio do não saber nem o que aconteceu comigo, então sentir esse vazio novamente.   

A minha busca sozinha é a mesma busca junto do meu paciente, afinal o meu trabalho é estar com ele para encontrar suas próprias respostas. 

O meu trabalho é estar comigo para encontrar as minhas próprias respostas e não respostas sobre os processos da vida.

O que é ser terapeuta então, se não aquele que tenta decifrar a vida e acaba encarando a morte?

Devaneios de uma jovem terapeuta